Por que tenho medo dos juízes? um olhar de Eros Grau

Por que tenho medo dos juízes? um olhar de Eros Grau

Por que tenho medo dos juízes, de Eros Grau, é uma obra jurídica interessante. O autor quando em defesa da correta aplicabilidade interpretativa dos textos jurídicos, se coloca em confronto com seus próprios pares. Quem pode interpretar o direito e se afastar da ambiguidade ou contradições linguísticas? Para o autor é necessário ocuparmo-nos das palavras, antes de utilizá-las. É necessário nos familiarizarmos com ela, pois muitos, sequer sabem de fato, o que estão escrevendo. Alguns juristas acreditam estar fielmente cumprindo o sentido das expressões jurídicas, mas elas acabam por escapar entre os seus dedos. A linguagem é um sistema de símbolos convencionais. A linguagem natural não está ancorada unicamente em uma única sintática ou semântica, o que acabará influenciando em uma textura aberta da linguagem jurídica.

Grau ao dialogar com Bandeira de Melo ressalta que as expressões jurídicas, apesar de estarem carregadas de ambiguidade e de imprecisão, elas possuem significação determinável. Caso contrário, seriam meros ruídos sem conteúdo. Entende que para concretizar o direito é necessário seguir dois caminhos: a) o caminho do texto até a norma; b) o caminho da norma até a decisão. É necessário que o intérprete extraia a norma do texto jurídico, portanto, ela é o resultado da interpretação. O intérprete não cria a norma, ele a expressa.

Neste gancho hermenêutico, defende que o juiz deve aplicar o direito, mas não de forma subjetiva. O juiz, portanto, não faz justiça. O direito e a justiça são conceitos diferentes e compreende que a justiça é mais bem aplicada em outras ciências, a exemplo da teologia, filosofia etc. Entende que o papel do juiz é necessário, pois as leis não são autoaplicáveis e muito embora uma decisão não seja um ato matematicamente previsível, o direito deve aproximar-se da prudência.

O autor ressalta que o interprete/juiz deve estar pautado na objetividade, ao trilhar o caminho da interpretação até chegar ao direito Este direito o qual defende é bem diferente da justiça popular que grita de porretes nas mãos. E ao dialogar com Kelsen sustenta a assertiva que a justiça absoluta só existe no campo de domínio de uma autoridade superior transcendente, pois na terra, só podemos alcançar uma justiça meramente relativa.

Ancorado no positivismo entende ser o juiz um servo da lei. Citando o exemplo do garçom, em Sartre, onde o mesmo cumpre um papel em prol do “outro”, (terceiro) de modo que ele representa “outro” (personagem) que não é ele mesmo. Naquele universo ele é um coisa-garçom, onde afastado deste meio, ele pode ser qualquer outra coisa. Grau, sob o mesmo olhar, compara o juiz como uma coisa-juiz que necessita representar um papel. Fora deste contexto, o juiz cumpre outros papeis (professor, escritor, etc) onde poderá exercer sua vontade. Enquanto revestido de um poder estatal que lhe é conferido, deve ser um juiz afastado de qualquer subjetividade ou valores pessoais.

O direito moderno está permanentemente em crise e o judiciário é visto como um grande produtor de inseguranças jurídicas. Um risco para a formalidade racional do direito. Grau indaga se de fato os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade são eficientes, pois não reproduzem suas características e quando avocados pelo Poder Judiciário chegam a ser banalizados, invadindo-se a competência do legislativo.

O ministro aposentado faz criticas ao órgão maior do qual já fez parte, ao destacar que o STF precisa afastar-se dos juízos de valor e se comportar com prudência. Afinal quem produz a norma jurídica, o legislativo ou o judiciário? Para o autor, o interprete está vinculado à objetividade do direito, logo, o juiz apenas “expressa” a norma derivada do poder legislativo. Isso significa que os juízes não criam, mas sim produzem o direito, apenas complementando o trabalho do legislador.

 

REFERÊNCIAS:

GRAU. Eros Roberto, Por que tenho medo dos juízes: a interpretação/aplicação do direito e os princípios. Edição: 10ª, ano 2021, Editora Malheiros.

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